Palavras são vãs, fugazes e tolas.
Nos tiram o chão, ou nos elevam ao paraíso.
As vezes quando não sabemos o que dizer, elas são tolas e frias, mas no ouvido de quem desejamos, podem ser mais quentes que o mais quente dos verões.
São escritas, faladas, lidas, relidas, entendidas, esquecidas, sérias e bobas.
São a vida do escritor, a mentira do político, o dinheiro do padre, a dor do poeta.
E de palavras se vai o mundo, e de acertos escritos ou cantados, se fazem guerras e amores.
Das palavras se fazem músicas, para explodir o ódio, para brindar o amor.
Palavras nem sempre são ditas, olhares podem conter palavras, gestos podem carregar o peso de infinitas palavras.
De palavras me alimento, devoro-as, estilhaço cada uma, junto, misturo, estupro-as.
Com elas me delicio, levo cada uma comigo, como a mais ardente das amantes, como a mais púdica das noivas.
Elas me compreendem me satisfazem, me dão abrigo e refugio, me dão máscaras e até mesmo várias faces.
Com elas posso ser quem eu quero, quem qualquer um quiser que eu seja.
Pois não me basta ser um, preciso ser mais, preciso ser mutante, como elas, minhas ninfas, minhas musas.
E de palavras vou vivendo, de palavras vou me saciando, esquecendo quem um dia fui, quem um dia ei de ser. Para ser isso, um colecionador de palavras tolas e vãs.