Mesma Medida.

As vezes, esqueço quem sou, vago incessantemente em existências criadas no medo de não ser.
Calo a boca dos horrores matutinos dos tele jornais em boca vazias de cigarros mofados.
Triste percalço do poeta, sem tristezas, sem pesares, domingueia a vida, num sofá que gruda no calor.
Maldiz a vida, tão sofrida, e renasce em êxtase nas noites de promessas rotas.
Triste óculos esquecido no armário das lembranças, não mais vê as alegrias coloridas, de dias frios a beira mar.
Deseja a fuga, a estrada, a morte?
Deseja a loucura, como sua mais fugas amante?
Ou brinca com a morte? essa inconstante criança?
Caminho em sóis escaldantes, que me desfazem em existência vazia e lágrimas.
Sentido algum que me leve, ou me traga, de lugares vazios.
Há uma boca que beija, e uma que vomite, a vida, mesma medida.

Já não há barulho.
Nas fotos que olhos distantes roubam.
No rubor esfomeado que olhares revelam.
Há um silêncio sorrateiro, que flutua em meio a lembranças moribundas.
Velando o sono ainda leve, de velhas amarguras.
Mantendo fechada, cicatrizes jovens,
Embaixo de um velho couro.
Mantendo calada.
Distante.



Lobo do mar

Eu vivo assim, meio avesso.
Meio torto, estranho.
Angustiado com o próprio existir.
Numa ânsia de saber, muito antes de viver.
Divago assim, meio perdido.
Aborrecido.
Vou assim mesclando palavras.
Com café amargo, fumo ardido.
Mesclando saudades, nos olhos amanhecidos.
Carregando incertezas, sonhares.
Um óculos escuro, para os dias de lágrima.
Tinta fresca, para colorir a tristeza.
Para pintar de arte a morte, a vida.
Sabe qual a mais sofrida?
Um barco à vela estancado.
Navio naufragado.
Estrela em colapso.
Perdido, em mares e bocas.
Tempestades de pernas e sabores.
Navegando sozinho.
Sob a lua distante.
Empalidecendo as noites,
Brindando o amar.

Ser amado.

Eu não quero que tu me ame
Longe de mim desejar tal desgraça,
a ti que coloriu minha escuridão.
Não quero que me ame.
sinta essa angustia que transborda
e machuca a vida, nessa mania de sentir
Não quero que ame
e se veja refletido,
na falta aguda que o tempo esconde
Não quero que me ame.
que me deseje,
nos dias claros de inverno
nas noites quentes e tempestuosas de verão
me deseje nos campos floridos
numa folha que cai, colorindo meu outono interno
Eu não quero ser amado
que se machuque
chore, sangre
e maldiga a vida,
tão bonita de ser vivida.
me basta a distância e até o ódio
mas a certeza, deste brilho
de estrela vespertina.

Rasuras

Não sei se sinto demais.
Mergulho demais.
Estradeio demais.
Penso de menos.
Mas não me agrada arranhar a pele.
Se não for para chegar até as entranhas.