Vamos fechar nossos olhos novamente, fechemos eles, bem fechados, não deixando um filete de luz, nesses dias de trevas o melhor é manter nossos olhos fechados.
Quem ia gostar de vislumbrar os horrores da verdade? Quem ia querer  vislumbrar por um segundo que fosse nossa gradual morte?
Cavaremos mais poços, mais valas, mais covas.
Manteremos nossos olhos fechados, agonizando pouco a pouco na carne de nossa desgraça.
Saciando nossa vil fome no sangue do desespero alheio, acenderemos fogueiras para iluminar nossa burrice, fogueiras acessas com os corpos de nossos antepassados, de nossos irmãos, de nosso povo, afinal, do que vale corpos, se já vendemos nossa alma em troca de algumas luzes.

Não chore pelos mortos, não lamente pelas vidas destruídas, pelos sonhos acabados, pelas mentiras contadas, de que vale o choro? Qual o preço que o capital vê na lágrima? A não ser lágrimas escritas, lágrimas bem atuadas, estas sim meu amigo, estas valem muito, valem tanto quanto teu pobre cérebro, tanto quanto tuas verdades forjadas.
Não, eu não sou pragmático.
As fogueiras já foram acessas, o sangue já pinga levemente, para não tardar ser derramado, ser derramado nas nossas águas, nas nossas casa, na nossa cara.
Os arautos anunciam as vitórias, de ambos os lados, mas quais lados?
Já se perguntou meu amigo, qual o lado? Qual a verdade? Será que existe essa tal verdade?
Levantamos bandeiras, prontas, compradas, e presas, enquanto calados muito perecem, enquanto longe das nossas câmeras muitos acham no sangue a saída, e no fogo o refugio.
Lembre-se meu amigo, as fogueiras estão sendo acessas, e de quem será o sangue derramado?