Eu guardo em mim as coisas do mundo, algo do ontem e um hoje assombrado.
Eu carrego tudo que posso, e tudo que não tem peso nem valor, eu carrego o vento, carrego o ar, carrego céu.
Eu carrego as estrelas no reflexo dos teus olhos, e carrego assim teus olhos em mim.
Eu carrego o toque suave da tua mão no ar, e o vento que exala da tua respiração.
Eu te carrego comigo.
Tal qual o mar carrega o barco pelo destino.
Tal qual o vento carrega a folha seca pelo espaço.
Como o relógio carrega os ponteiros pelo tempo.
Infundada melancolia que se dobra em meus olhos, capazes de ver o que outros nunca vislumbraram.
Disfarçada felicidade se abranda em minha boca, disfarçando sorrisos outrora reais.
Então caminhos me carregam, ruas me escutam, e botecos me abençoam.
Como um arlequim desempregado vou deixando a história me esquecer, e o caos me abafar.
Para ser nada, para ser passado, para ser nulo, para não nascer.