É deveras interessante consultar oráculos.
É deveras interessante, prever o futuro
Saber o que e quando.
Manter-me cego és mais proveitoso, cego as dores e aos amores,
cego a tudo que me convém, e a tudo que me destruirá.
Fico grato por não saber, nem em sonho nem em ilusão o que me reserva, essa caixa de loucuras chamada vida.
Não contar até dez, não sonhar amanhã, não viver no ontem.
Saber-me, tolo e fugaz, jovem e mortal.
Conceder a dança das eras sua desforra, caindo em esquecimento, levantando-me em glória, ou alguma outra peça que o acaso me trouxer.
Navegar em nuvens de ilusões, no louco festim do conhecimento.
Meu futuro me revela tanto quanto posso esperar que olhos cegos me revelem as cores do dia.
Conclusões que nunca terei, respostas que nunca alcançarei, memórias que nunca lembrarei.
Desta caixa louca, chamada vida, só carrego incertezas e dúvidas, movendo-me entre elas como um espectador.
Não me cabe obter respostas, não me convém saber soluções, nem aprender a louca língua dos sábios.
Quando a simples alma dos que buscam, habita meu ser, dos que buscam sem fé no que vão encontrar, sem maiores ânimos caminham em estrada disforme.
Sabendo que suas respostas serão respondidas, quando não mais tiver ouvidos para ouvi-las, tampouco olhos para vislumbra-las.
E nessa piada ambulante que vivemos, perde-se a fé, perde-se a crença, perde-se tudo.