Hoje acordei cedo, a vida me tirou o sono, hoje não fumei meu cigarro, a vida me tirou a solidão, hoje tomei um café que sobrou, a vida me tirou a novidade, hoje não pigarreei, a vida me tirou a vontade, hoje não fiquei em silêncio nem plácido, a vida me tirou a quietude. Vomitei, a cabeça doeu, os restos da noite passada ainda habitavam meu corpo, hoje a vida não me deixou fazer muitas coisas que gostaria de fazer, a ressaca me deixou torpe, o corpo ainda estava cansado, eu me embolei em mim, hoje não me foi dado o tempo, hoje eu precisava lidar com a partida, com a despedida.
Não havia gato, não havia dia cinza, não havia milonga, e havia tudo, muito rápido, muito entorpecido pela noite anterior, de vícios e saciedades baratas, eu ainda cheiro a álcool como disse um amigo. eu ainda cheiro a ontem, ou hoje cedo se pensar no tempo.
Deitei na rede, fugi, me dei o direito de escapar de tudo, e me afundar na solidão, de me entregar ao que sentia, de fumar meu cigarro. de pigarrear, de vomitar mais um pouco, de lidar com minha despedida, de lidar com minha ida, de ir, de como um rio deixar fluir, de como um rio correr sem medo, de como um rio desaguar, de como um rio renascer, de como um rio, mesmo sendo enchente, deixar lembrança, deixar vida nova no campo, deixar destruição, deixar renascimento, deixar vida, vomito mais um pouco, meu cigarro chega ao fim, penso que o próximo será nas margens de um grande rio, antigo e imponente, tenho medo, do aprendizado, tenho medo da viagem, mas fluo como um rio, as minha raízes, as minha heranças, as novas lições, as novas vidas ainda tão frágeis e novinhas, as novas experiências, como um rio a renascer, em chuva, que a chuva caia, que como um rio, eu devo continuar, e levantar, tomar um banho e ir, para um grande rio antigo e caudaloso. choro, o peito arde, tenho que ir, tomar um banho, gratidão é a palavra.