Ainda ouço tiros, de ontem, outro dia, outro ano, outra era, outro instante.
Ainda sangra a ferida aberta, ainda sorri o peito acalentado.
Ainda sorri.
Ainda se cai em carinho e ternura a memória já domada.
Ainda se viaja, longe nas brumas, nos rios, nos mares, no asfalto.
Ainda se perde em meio a planícies.
Ainda se molha na chuva, nas lágrimas, no rio.
Ainda marinheiro, cosmonauta, viajante, amador.
Ainda ouço tiros, de adeus, de saudade, de lamento.
Do amigo, do irmão, da mão amiga na batalha, na luta, na vida.
Ainda coça a ferida cicatrizando, que manchou de carmim, o azul dos dias.
Ainda escrevo, como quem pouco quer, mas muito sente.
Ainda danço perdido nas madrugadas. embalado pelas criaturas profanas da noite.
Pelos baratos elixires que embriagam corpo e mente.
Sorrio sim, as gargalhadas.
Ainda acredito. ainda.
Num mundo melhor. na queda dos muros, e no queimar das bandeiras.
Ainda acredito. Ainda.