desde o amanhecer, me pergunto o porque de tudo.
porque escrevo, porque sofro, porque há dor?
desde cedo me questiono sobre o mundo, essa dor sem fundo.
caminhei as ruas ensolaradas, nem frias nem quentes, ruas e suas pessoas. pessoas e seus caminhares, olhos e seus pesares.
desde cedo me canso de todos e de tudo, do amigo que ri abertamente, do agrado despretensioso, do dia, do vinho que não sacia, do cigarro que não acalma, a alma o corpo e a mente.
desde cedo o sol me bate a cara para me lembrar de outro dia, outra vida, outra morte.
desde cedo procuro teus olhos, no meus nos de outros, nos teus próprios.
desde cedo já é tarde.
para lembrar o sorriso, que já enferruja nas gavetas da lembrança.
do afeto que se esconde na ânsia da distância.
desde cedo me convenço que partir é o caminho.
e tal marinheiro errante de outras vidas, anseio a distância.
que cala a saudade, cala as línguas e os amores, que afaga o esquecimento.
desde cedo sinto medo de partir e querer ficar,
desde cedo não há porque ficar.
desde cedo a despedida se adia,
desde cedo.
desde cedo eu caminho e penso, desde cedo eu escrevo, desde cedo estou partindo.
ainda cedo eu me despeço, para quando cedo sair, o vazio se acostumar,
com meu adeus, minha saudade, minha dor.
desde cedo o sol nasce, um novo dia, uma nova vida uma nova morte.